domingo, 3 de fevereiro de 2013

Por favor, entenda

"me parece ligada ao velho problema de falta de iniciativa, de atitude: sempre espero os outros tomarem a primeira decisão por mim, sempre foi assim"

Hoje você escreve...quando namoravamos vc nao se expressava nem por escrita. Suas palavras não ditas, a infelicidade que vc escondeu de mim, a sua frustração por eu ser e exteriorizar tudo o que eu sentia, sem me controlar. Eu preciso que vc saiba (tomara q vc ainda leia meu blog) que vc foi e ainda é na minha cabeça o melhor namorado do mundo. O melhor q esteve ao meu lado. Mas vc sofre desse serio problema: não te falta atitude, te falta coragem. 
Quando li seu texto hoje, é obvio que chorei. Chorei pq vc entende tudo errado e tudo certo. Pq vc advinhou certas coisas, mas supos outras. Tudo bem, eu entendo mais do q vc imagina como é tentar seguir o outro personagem, ansiar pela sua volta, implorar pro autor da obra fazer com q nossos caminhos se cruzem. Esse é o nosso porblema, percebe? O autor deu liberdade a você! Sim, a você. Eu cometi o erro de não te dar espaço qd terminamos... e te procurei, quis te obrigar a ser meu de volta e vc não quis. Eu sei pq vc não quis. E realmente foi melhor. Você naquele primeiro mês tinha tomado uma decisão. Tinha tido coragem de se impor pelo que desejou, pelo que achou q seria melhor. Mas hoje eu chorei tb porque eu percebi que vc prefere escrever e esperar q eu te procure nas linhas, nas entrelinhas, na distancia, na memória a me ligar, a me dizer tudo isso que vc sente. 
Eu jamais te negaria qualquer coisa, vc entende isso? vc nao sabe pq eu te exclui ou apaguei aquelas fotos? eu não quero te apagar da minha história. Eu fiz aquilo pq eu não consiguia ser maior do que a tristeza, do que o ciume, do que a carencia...É  mais fácil quando nao vejo que vc tb faz coisas que nao fazia comigo, como por exemplo ir a um dos cafés que eu mais gosto. Vc vai sempre e vc se diverte com seus amigos em bares na paulista. Eu me culpo, pq depois que terminamos , eu quis mudar pra vc voltar e acabei mudando por mim. Eu percebi o qt era mesquinho te privar da compania deles, da risada, dos segredos da amizade. Do quanto eu senti falta de sair pra dançar e rir com as amigas tb...do qt meu ciume era descabido, do qt eu nao tinha que provar nada pra nenhum dos seus amigos, do quanto eu nao precisava odia-los pq eles nao me amavam...
Eu tb aprendi a fazer coisas que nao gosto, mas que são necessarias. Eu queria tanto te ver e conversar e te sentir perto de mim. Vc le meus textos, mas parece que nao leu. Na maioria eu deixo claro as saudades, as duvidas, os medos...até qd parece que não é sobre nós, na verdade é! o Texto pro meu pai, a maioria dos recados é pra vc. A frase que vc mais gostou. Justamente ela. A musica que embala o texto. Vc é meu rio e eu pedra de rio.....como vc pôde nao ler o que era amor por vc.  O casal que transa de manha e tem um orgasmo junto. Aquela transa, os movimentos sao nossos. Vc não reconheceu? Como não? ali estamos vc e eu, minhas lembranças mais queridas, meus melhores sentimentos. De manhã, nós dois na cama sempre era assim...sempre do mesmo jeito. 
Feliz eu estou...me acostumei. Vc me desejou felicidade no Natal. Como eu poderia nao aceitar sua unica palavra pra mim? Eu me declaro pra vc em todas minhas palavras. Hoje meu melhor amigo disse que nao suporta mais essa historia. Que eu preciso parar de correr atras de vc. Que vc não vai voltar. Eu odeio qd me dizem isso....mas parece verdade, entao fui viver minha vida...fingindo que vc era alguem que eu inventei, que essas memorias q eu tenho são de um romance sem fim antigo...que li quando rezava a Deus e pedia um namorado como vc.
Eu nunca vou te falar por um texto as novidades da minha vida, por mais vontade que eu tive e tenho. Vc não sabe por que?

Eu espero secretamente que a sua curiosidade te perturbe o suficiente pra vc me ligar e me chamar pra sair. Pra que não nos encontremos por acaso, mas sim pq VOCÊ QUIS me ver. Pode parecer mto cretino isso. Desculpe por isso, mas nao pode ser eu quem liga. Vc é quem deve fazer e se quiser fazer. Porque eu sei q se eu ligar a resposta será não, ou talvez algo do tipo: Vc acha mesmo q a gnt deve se ver?....


Mas você sempre soube e sabe: Eu jamais te negaria. Como nao nego mais uma lagrima hoje.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Um dia

Ao som de Barricade
 
I did not take to analysis so
I had to make up my mind
And hold it for a while
I would not just leave you without a kiss
But i guess there must come a time
And there is no more tears to cry
Thieves and snakes need homes
Need homes
Barricade

It starts to feel like a barricade
That keep us away
To keep us away, it kind of does
It starts to feel like a barricade
To keep us away
Keep us away


Um dia nos encontraremos de novo. Um dia eu ansiei por esse dia. Essa semana eu amaldiçoei esse dia. Você não sabe porque, nem vai saber. Assim como as entrelinhas do que você escreve ficam soturnas, eu ficarei por um dia. As saudades existem. São muito maiores do que uma simples vontade de transar. E como eu quis seu corpo mais uma vez que fosse. Você sabe disso, meu bem. Você, talvez mais do que eu, sabe o que vai acontecer um dia, porque eu te dei esse poder. Poder delegado a um escolhido. 
Decida sobre nosso futuro, dessa vez só pode ser você quem vai tomar uma atitude. Eu pedi a Deus: me liberta, senhor, reine em minha vida. Reine você também sobre nós. Reine sobre a minha ignorância, sobre a minha avidez de nós. Esse desassossego que sentimos queimar nossos corpos e que nos faz chorar ao som de Chico Buarque. Esse desassossego das 10:40 da manhã que não duraram pra sempre como você um dia me prometeu. Nossas dívidas são outras. Nossas dívidas não podem ser pagas no cartão, muito menos nas palavras dissimuladas. Você sabe como ninguem me dizer milhares de coisas sem dizer nada. Você é o rei da insinuação, do mistério...um dia você foi diáfano para mim, deitado sobre mim, sorvendo todo leite primordial que eu poderia te dar por pura gratidão. Ainda quero que você aceite. Aceite tudo isso que eu sinto. Aceite sem dor, sem pudor, com humor. Que este texto te faça sorrir, pelo amor de Deus. Que você não entenda nada errado. 
Quando chegam esses dias em que eu abro o olho e não vejo meu quarto, mas sim você do meu lado, com seu cabelo cacheado, com seu peito machucado, de pau duro, me amando baixinho, querendo meu corpo do jeito mais terrível. Mais terrivelmente gostoso. Você entende isso? acordar e enxergar uma realidade que você nem tem mais noção se inventou ou se existiu de fato? Eu não aguento mais. É só isso, meu bem. Me rendi. Me rendi às pessoas, aos meus desejos mais nojentos, às bebidas, aos cigarros, às viradas, às vadias, à dança compulsiva, ao som alto insuportavelmente maravilhoso, a chorar antes de dormir, a rezar desesperadamente para que Deus apenas exista de fato.
Eu só quero me sentir capaz. Eu só quero me sentir completa. Eu só quero me sentir alienada. Eu só quero poder sonhar com qualquer pessoas que não seja você. Em meus sonhos você já fez todos os papéis, menos o que você fez por dois anos. Você entende quando uma sensação é desconfortável, mas será que entende quando é pertubadora? 
Você vem, chega mansinho sempre...desse jeito tão doce e ingenuo e....manipulador (mesmo que você nao queira ser manipulador). Mansinho...a fúria que você controla, a potência do grito das tuas emoções que você cala, a violência intrinseca a você que você amansa. Deixa sair, diz o que você quer dizer. 
Eu não sei. É um estado meio estupido esse de não saber, aliás.
O meu corpo padece, desfalece, o coração acelera, o suor me derrete, todas as borboletas do mundo vivem dentro de mim. Um dia...um dia....quando é esse dia? quando vai ser? Um dia vamos sair feito amiguinhos? é isso que você quer? é isso que queremos? tanta coisa rolou no nosso rio. A água é tamanha que eleva o nível da febre. Eu tenho e tento me curar de nós, da nossa felicidade, todas as noites, na redenção do que me propõem. Em geral funciona, mas você vê...isso não é suficiente para alguem como eu. A avidez é a minha mais incial fome, disse Clarice. Você sabe que tudo posso mudar em mim, menos isso. A bussola que me guia é o desejo. Mesmo que hoje seja o desejo de deixar o desejo por ti, um dia será outro. Um dia eu aprenderei muito mais do que isso...você também...mas o que eu sei. Ah o que eu sei, você não quer me deixar reaprender. Eu não me deixo. Essa semana eu estou tentando algo novo, porque eu experimentei o inferno. Eu não quero voltar lá. Parece que funciona. Eu gostaria que funcionasse. Mesmo.
Tudo bem...um dia vai ter funcionado. Um dia nos encontraremos de novo. Aí saberemos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Porque era ela, porque era ele


Hoje acordei sinceramente apaixonada pelas flores roxas que serpenteiam meu caminho. Pelos mil verdes dos sertões Roseanos encontrados aqui na metrópole cinza. Hoje chove fininho, garoa na Terra da garoa, algo aparentemente incomum nessa época do ano. Nosso verão costuma derreter do jeito mais gostoso e infernal os corpos sedentos, mas hoje, assim como há uma semana atrás na praia, está garoando de uma maneira que prenuncia uma chuva torrencial. Há mais de uma semana houve notícia de um casal que morreu de mãos dadas na praia: os dois juntos, mortos pelo mesmo raio. Isso com certeza parece estória de filme romântico ou de folhetim do século XIX. Aqui vai a estória deles.
Sarah e Abelardo (não, não haveria nomes piores, pois isso tudo é extremamente inventado, tirando o final dos dois que é verídico de fato). Sarah e Abelardo passando o final das férias na praia, um casal comum, um casal banal com nomes esquisitos. Irônico essa coisa da hora da morte. Dessa atmosfera suspensa que é saber ou não quando se vai morrer. Ir à praia, “aproveitar as férias”, descansar... Tem algo mais vulgar que isso? Que essa trivialidade das coisas? De como o destino se desenha na nossa frente, como se fosse palpável, como se Deus brincasse diante dos nossos olhos de delinear nossos sorrisos, mas nós simplesmente precisássemos de mais, de mais concretude, de mais dor, de mais sensação do que é possível sentir, para enxergar tudo, para sentir tudo, para enterrar o que foi, para seguir em segurança. Segurando na mão de Deus ou da Morte, na mão de Venus ou de Baco, na fuga de Artemis, ou na sabedoria de Maria ou de Atena. Seguimos como Tomé, como Ulisses. Pedro, tu és pedra, e sobre ti construirei minha Igreja: Deus mostra o futuro na fé e a na dor. Mas quando se ama não se enxerga os sinais do apocalipse. Ninguém quer prever o fim da felicidade... esse final não existe no amor. E quando o final e a felicidade se encontram?
Saíram mesmo com o tempo ruim... de mãos dadas é claro. Naqueles dias em que os casais não têm muito assunto entre si, que mesmo fora da rotina, já há outra rotina pressuposta entre eles. Mas tudo bem... numa viagem é tudo tão gostoso: o cheiro da maresia, a areia misturada com o pé, a pele sentindo o sol imperar, mudando sua cor porque Ele pode e quer. E mesmo com a chuvinha iminente, saíram. Os dois acordaram felizes, se olharam com gratidão. Um beijo que desce pelo pescoço, a mão que desliza maliciosa, fazendo o carinho primordial da intimidade, arrepiando os dois corpos ao mesmo tempo em que se espreguiçam... querendo mais, tirando a camisola que já escorrega pelo corpo dela quase nu, os seios livres e só a calcinha representa uma barreira tão boba à mão dele. Ela, manhosa, vira de costas pra ele e ele começa a beijar sua nuca num gesto tão singelamente sensual e sussurra “eu te amo” enquanto morde de leve sua orelha. Ele não pode ver, mas ela sorri de olhos fechados, a mulher mais feliz do mundo naquele instante infinito. Ele passa a mão pelo quadril dela e continua lhe beijando as costas, ela vai se contorcendo e vira de frente pra ele, ainda sorrindo. Aquele sorriso gratuito de quem ama por amar, de quem sente tesão porque é inevitável não senti-lo pelo homem ao seu lado, de quem emana os melhores aromas da alma. Eles se beijam, naquele beijo demorado com o mau-hálito da manhã que nunca importa, aquele beijo arrastado em que as mãos se confundem porque querem tirar o resto de roupa do outro que ainda não se foi, aquele beijo ávido e inteiro, inteiro como o amor pela manhã, o melhor jeito de começar um dia. Nus, eles se tocam meio ludicamente, de uma maneira tão íntima e secreta, como se só os dois fossem capazes de entender aquela brincadeira que é se amar, então os corpos se juntam, se grudam, um ensaio de suor começa a se delinear pelos dois, se misturando àquela sensação insana que só pode ser saciada com o sexo, com o sexo puro, sem pedir esmola. Então ele a penetra: com vontade, com simplicidade, sem pressa, sentindo em cada nervo como é bom estar dentro dela, sentindo o gozo antes mesmo dele sequer estar se aproximando, o gozo que é transar com alguém escolhido e feito exatamente para você.
Continuam sua dança, um conduzindo o outro sem precisar falar nada. O gemido segurado, o suspiro sinalizador, o sussurro de promessas. O cheiro dos dois se misturando, se fundindo ali, enquanto ele continua suave em cima dela. Os olhares trocados como se entrar nela fosse desvendar todos os desejos da menina dos olhos que brilha num sonho partilhado. Os sorrisos, ah o sorriso doce. Esse é o mais belo momento: os sorrisos que se encontram e se desenham espontaneamente ao mesmo tempo. É o sorriso que antecede o gozo, o sorriso antes do extravaso, profetizador do auge. E assim é. O orgasmo sincronizado, aquele que só acontece em datas aleatórias, que só vem quando não se espera, pois não há preocupação com o gozo, o gozo está ali desde que se começa a tirar a camisola dela. Então ele vem, os dois se contorcem junto, ela morde o ombro dele e aperta as unhas em suas costas e ele sente tudo pulsar.
 Escovaram o dente e saíram para tomar café. Tomaram café com cumplicidade, um sabendo o gosto do pão e da fruta doce na boca do outro, sabendo-se por inteiro, sentindo o suco descendo pela garganta...a última refrescancia do corpo. É melhor sair antes que chova mesmo. E saem, saem de graça, a andar pela praia...o tempo nublado...a mesma chuva fina de hoje. Brigas sempre acontecem, meu bem. No fim do relacionamento a gente tenta lembrar-se do pior e nem sempre consegue. No final a gente só quer perdão, a culpa consumindo por lembranças que nem existem. Até que um dia você se lembra de quase todas, mas não lembra o motivo de duas e se sente idiota, estúpido. Todo mundo quer voltar no tempo nessas horas. Sara e Abelardo pela praia, eles não têm nenhuma lembrança ruim, tudo é paz e sol, o sol que não brilha, mas existe dentro de si, entidade que aquece no frio. Eles não pensam agora em voltar no tempo, em ficar mais tempo tomando café, em passar o dia no hotel. Será que pensaram isso na hora da morte? O que se pensa na hora da morte? Acho que nessa hora só há um “não”. Um não-pensamento, um não-sentir, um não-se prender, um não-se libertar.
Eles andam pela praia fria, o pé se molhando de areia e de mar, ressecando e arrepiando a pele. Felicidade gratuita essa, a de andar pela praia, de molhar o pé enquanto a brisa bate. Futilidades mal agradecidas. De mãos dadas, não precisam se falar. Tudo foi dito quando acordaram. Esse arrependimento com certeza não tiveram. Esse arrependimento egoísta de ter deixado de dizer coisas importantes pra quem se foi. A hora da morte é a sentença inenarrável de cada um, sua hora, aparentemente não sabida, é tão verdadeira quanto o amor da manhã de Sarah e Abelardo. Não se pensa em nada, não há arrependimento suficiente nessa hora, ou culpa ou alegria que te salve dessa hora. Então não nos negamos à morte. Ela vem e nos leva. Porque não há chance contra a morte. O fim é o fim. O fim que os vivos não aceitam. O fim feliz de Sarah e Abelardo. O fim aceito, como o orgasmo aceito naquela manhã.


Eles andando ali, um casal de anônimos, a chuvinha fina começa, eles pensam que logo ela vai embora, continuam a caminhada. Um raio se desenha no horizonte, um mau agouro talvez? Nada poderia ser mais irônico do que os sinais que antecedem a morte. Então ali, ela olhando em direção ao mar, ele olhando em frente, os prédios maiores... O Raio lhes veio súbito, íntegro, percorrendo o corpo dos dois, consumindo toda suas vidas, suas pulsões, seus maiores medos, seu amor mutuo, os sorrisos. O Raio que veio como o orgasmo: aleatório, forte e sincronizado. Vida e Morte. Morreram juntos. Ali porque Deus quis. Porque eles quiseram morrer na certeza daquela última sensação partilhada, sem imaginarem um fim diferente para si mesmos.  

domingo, 13 de janeiro de 2013

Dentro da tempestade

Tudo sobre eles sempre foi assim: Tempestade. Água que lava, água que fere, água que alivia, trazendo sua alegria com aquele som bom de dormir a tarde. Quando um se ergue parece que o outro sente: Sente a força que se emana da alma, do espírito ainda doente que luta em se reerguer, do raio que aparece antes do trovão, avisando, pré anunciando, toda carga de emoção relutante em sair, em se libertar, mas que vence por mais um dia. 
Nenhum dos dois tem como se entender nesse momento. Seus segredos dissimulados e dores escondidas, a ressaca dos olhos de cada um pelas palavras de um texto que comove. Decisões inexplicáveis, sentir inveja de quem pode estar ao lado do outro e sorrir porque pode e brincar porque não há dor e falar o que quiser porque não precisa esconder nada. Estar ali por estar ali. Foi isso que eles perderam. A falta. A falta é essa. A da naturalidade do tempo, dos corpos, das palavras, do cheiro, da vontade, do desejo íntimo partilhado...essa naturalidade de poder se sentir a vontade, livre, se sentir como algodão. A falta do algodão, é essa a falta.
O vento que bate-lhe na cara, no corpo ferido, vem direto dele. O vento só se venta por ele. Não sabem até que ponto essa dor é mútua ou partilhada. A confusão sempre lhe vem nos momentos de certeza...é sempre assim: dois passos pra frente, um pra trás. O tempo cuida de certas feridas, mas ele é arbitrário: a velocidade do tempo depende de nós. E ela não quis no começo, ela quis se prender...agora não sabe mais e é quando não sabe que percebe  como está sentindo. 
As melodias do vento se ressignificam, mas sempre terão o significado primordial. Novas músicas se tocam, fazem a pele tremer, ressoam entre as pernas e ela as vezes sente que vai desabar. As vezes faz sol também: a saudade também esquenta. E quando desesperada ela sente o corpo se desenhar nos sonhos dele, percebe que, ainda bem, certas coisas não se podem mudar. Velhas letras sempre serão as palavras mais belas já ouvidas.
Ela sempre espera as palavras que demoram a chegar...responde rápido, meio ainda sem entender tudo o que ele quer dizer...mas tudo bem...a tempestade volta, faz bagunça dentro dela ao mesmo tempo que alivia certos medos...
Até Macondo enfrentou sua chuva apocalíptica...ela também precisa passar pela dela mais uma vez.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dentro da lágrima

 Ao som de Madness

"I can't get this memories out of my mind
And some kind of madness
Has started to evolve
And I...
I tried so hard to let you go
But some kind of madness
Is swallowing me whole"

Depois de tanto tempo (quanto tempo mesmo?) ela lhe olha no olho....ele do outro lado da rua, pode sentir que é enxergado por ela como se eles ainda vivessem dentro um do outro, como se todos aqueles anos (quantos anos mesmo?) não tivessem sido fortes o suficiente. A respiração fica arfante, o coração acelera, as borboletas dançam a música já conhecida por ambos. A brisa que suspira por eles passa cantando "eu te amo", A música, só esta música, a música que jamais teria outro significado e que foi evitada por eles em todos esses anos.  
Estão parados. Chocados. Quase mortos, mais vivos que nunca. Ela de um lado da rua, ele do outro. Muitos anos, todos os anos, meses...a aparência de ambos não mudou muito. Ela mudou a cor do cabelo mais uma vez, nada muito chocante, os cabelos cresceram. Ele, seus cachos pelo rosto daquele jeito brincalhão, jovem e ao mesmo tempo preguiçoso de cuidar de si. Ela pensa "porra, vou começar a chorar...não...segura a onda, já faz tanto tempo. Quanto mesmo?". Ele não pensa nada, pára pra se escutar, escutar seu corpo reagindo a ela, a tudo que ela lhe significa.  Quem é ela que avança sobre a aurora dos tempos?
Ela levanta a mão, acena sem graça. Ele também acena. Ela atravessa a rua, o vestido balançando-lhe o quadril, como se ela deslizasse não pela rua, mas por todos seus sonhos perdidos sobre eles, sobre suas esperanças trocadas. Ela continua linda. Ele ainda é o mais bonito da faculdade pra ela. Mesmo que já esteja terminando sua pós graduação. 
Oi
Oi
(Caralho... - os dois pensam juntos)
Aquele tipo de conversa nunca era das mais fáceis de se ter..eu nunca saberei o que eles conversaram. Eu não posso adivinhar quantos anos se completaram até esse momento. Mas eu estou lá, ao lado dela, olhando tudo, chorando por ela, tocando no cabelo dele, olhando a cicatriz da orelha dele, pensando que ele podia se vestir só um pouquinho melhor e sorrindo por isso.
Eles riem juntos, tudo parou. O brilho nos olhos chicoteando lembranças em ambos. A risada doce partilhada no arrepio do encontro. Nada mudou. Tudo mudou. Não é a mesma coisa. Nunca mais será. Ela sentiu todos os dias aquela dor que é como se o coração diminuisse todos os dias menos de um milimetro, como se o sangue fosse empurrado ao invés de fluir livremente, como estar presa dentro de si mesma. As lágrimas seguradas na frente dos amigos quando de repente se lembrava de um beijo, de um banho, de uma brincadeira boba no metrô...O Vômito impedido que é segurar o choro, o grito que tenta ser calado. O coração assim apertadinho de estar perto dele, de dividir o mesmo ar, o suor que derrete a pele. 
Ainda é estranho pros dois se verem daquele jeito, como se ainda tivessem assuntos pedentes, beijos pendentes, transas pendentes, promessas pendentes, desejos pendentes, surpresas pendentes. Ela, rainha por domínio, hoje não quer mais do que abraça-lo. Não pode. Vai chorar. Não pode. Nem pensar. Mas é só o que ela mais quis, em todo esse tempo. Poder abraça-lo, sentir o cheiro do perfume, que não é mais aquele que ela deu, passar o dedo por um de seus cachos como se pudesse deita-lo em seu colo e fazer aquele carinho de sempre dos anos em Macondo.
Perdida Macondo, de sonhos frustrados. Eu enterrei você. Eu quis me livrar de você, mas o vento não vinha nos levar. Só vinham as memórias, as palavras mal ditas e benditas. Eu quis ser tudo em você, o essencial, o amor primordial, toda a sua vida. E quanto mais eu tentei te afastar, mais me lembrei de você. E quanto mais te procurei em outras pessoas e outros lugares, mais percebi o quanto ninguém poderia me dar o que você me deu, ou ser o que você é, quem você é. Mas mesmo assim o tempo passou, a chuva sem fim chegou, o fim dos nossos tempos, o começo da desconstrução. As memórias foram sendo arrancadas aos poucos, algumas foram resistindo e outras começaram a ser inventadas por mim, imaginando toda uma vida que nem sequer aconteceu, com um homem que nem sequer era você, mas era. 
Ela sonhou com aquele dia, de milhares formas diferentes. Com ele a maltratando, com ele acompanhado de outra mulher, com ele a beijando na boca, sorvendo tudo que lhe restava, suas últimas forças. Nunca soube como seria, então essa foi mais uma...
Mais uma lembrança vivida dentro da milésima última lágrima antes do ano acabar.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desvenda-me. Devasta-me.

Ao som de Bliss
"Give me

All the peace and joy in your mind

I want the peace and joy in your mind

Give me the peace and joy in your mind

Everything about you resonates happiness

Now i won't settle for less"

Eles se odeiam, mas pior que isso, se desejam por amor. Ela se entrega inteira ao penhasco de suas lembranças, de suas dores. Ele foge, corre. Ela lhe impede:
Me fode agora
Ele puxa ela pelo cabelo, e mete por trás. Os dois de pé, ela consegue senti-lo inteiro, comendo sua alma.
Me bate
Ele diz não. Não te obedeço mais, nunca mais. Pega nos seios dela, os aperta com força. O quarto meio escuro, a luz da lua entrando iluminando-a em seu gozo. 
Eu quero a morte, ela pensa
Ele a arranha nas costas e começa a mordê-la, enquanto continua metendo bem devagar, mas entrando com muita força. Ela passa as mãos pelas pernas dele e reclina a sua cabeça devagar, completamente insana. Ele lambe de leve sua orelha.
Me mata, me mata agora! AGORA!, ela sussurra dentro de si.
Ele sai de dentro dela, e começa a balançar a cabeça negativamente com um olhar sádicamente penoso. Ela ajoelha-se perante ele, o olha daquele jeito que poucas mulheres conseguem de maneira tão natural e coloca o pau dele inteiro na boca, vai lambendo-o, beijando, olhando pra ele. Ele imóvel, começa a arfar, pode controlar seu rosto, mas nem tudo depende de controle, não é meu bem? ela lambe ele nas bolas, de leve, só a ponta da lingua do jeito q ele gosta, arranhando suas pernas como num carinho. Volta a engoli-lo, repetidamente. desejando cada vez mais senti-lo gozar em sua boca. Sentir a essencia da vida descendo pela garganta.
Ele a puxa bruscamente para cima, e a joga de quatro na cama. Ela mal vira o rosto e ele já está dentro dela de novo. Ela geme, geme furiosa. Prazer e raiva lhe tomam. Lhes tomam. Quem está no controle? e disso que se trata não é mesmo? Então com raiva ele lhe acerta na bunda, a bundinha arrebitada, rendondinha de ninfeta, que ela impina tão bem pra ele entrar cada vez mais rápido. Ela geme mais alto. Ele puxa-lhe o cabelo e diz: mia pra mim, feito uma gata. Geme feito uma gata. Ela obedece, quase sem abrir a boca. Vai gozar, gozar rápido.
Ela sai de dentro dele e vira de frente. Deita na cama e vai se afastando. Ele a olha maliciosamente.Ela o diverte, a quimica entre ambos é tão forte quanto a repugnancia que sentem um pelo outro. Ele vem por cima, ela lhe dá um tapa na cara. Filho da puta! Ele a olha com mais desejo, ela divertida. E vai devagar, brincando com a cabeça na entrada da sua buceta, passando, deixando entrar só um pouco. Ela lhe finca as unhas nos ombros. 
Mete, caralho! Mete! Porra! 
Ele pára. olha pra ela com aquele sorriso cretino e entra. Entra devagar, sentindo ela se contorcer. Ela gozou, ele pode sentir ela pulsando. Ela revirando os olhos, seu corpo inteiro se entregando à ele. Quem mais amou e odiou, quem mais conhecia, agora um perfeito estranho. Desgraçado ainda conseguia desvendar-lhe, mesmo sendo ela quem o desvendou pela primeira vez. Ele continua. também vai gozar. Sai de dentro dela e a põe de bruços.
Enfia o pau todo molhado por entre a bunda dela. A dor latejante. O grito se misturando ao gemido. Seu cuzinho é meu, só meu...ouviu, sua puta? diz que não está gostando, q é pra eu parar! vai, diz. Sua vagabunda, rebola pra mim. Ela em extase, nao sente mais seu corpo. Depois de anos, ele volta assim, todo mudado, um completo cretino, me fode desse jeito e ainda come meu cu. E como é bom e horrível q seja com ele. Onde aprendeu tudo isso? caralho, tá muito gostoso....foda-se.
No meio de tudo, ele vai gozar, ali se fazendo de durão. Esquece completamente quem cada um é. Goza se entrega inteiro ao corpo dela, às saudades veladas, enterradas onde o que é selvagem vive. Tudo volta num instante, o namoro, os anos, tudo que sorriram, que sentiram juntos, toda dor, todas as brigas....Tudo, em cinco segundos de um orgasmo infinito que só poderia sentir mesmo com ela.
Ele sai de dentro dela, ela desfalecida, vira de frente pra ele, em seu segundo orgasmo. Começa a gritar. Por que você veio aqui? o que você queria com isso?  Termina o que você começou, pode levar tudo o que é meu. Só a você eu me entregaria desse jeito, você percebe? e só você conhece minha alma e meu corpo desse jeito. 
Ele de pé, uma lágrima escorre por seu olho...ele de pé, Ela se levanta, lagrimas lhe lavam o corpo devastado por ele. Estão de frente um pro outro.
Maquinalmente e ao mesmo tempo. Ambos tiram o coração do outro com a mão. Sentem pulsar em suas mãos, todo o poder que poderiam querer ter em relação ao outro. 
Ainda nus, começam a comer, devorar o coração alheio, ali mesmo. o sangue se mistura com as lágrimas e com o gozo. Estão se lavando. Finalmente se perdoando, se deixando para trás. Esquecendo o que foi ruim e o que foi bom. Estão se tornando o outro, se invadindo da vida do amor perdido, esquecido. Da tormenta das noites. Dos pensamentos, das lembranças avassaladoras.
Devastando-se pela dor, por amor, pela esperança e pelas promessas perdidas. Desvendando-se, entendendo-se. Compreendendo toda alegria e dor que causaram um ao outro.
O coração, a esfinge de cada um. 
Preferiram a segunda opção:
Devoraram-se.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Te vento em mim

 "Perdido rio
de você, ah meu rio
Você é meu rio
e eu, pedra de rio"

Fez-se um ano que ele se foi. Se foi com o vento, como dor que passa e não volta. Graças a Deus não volta, pai. Meu pai. Você morreu. Eu fiquei. Tudo bem. Tanta coisa aconteceu desde que você morreu. Sonhos se foram, novos nasceram. O amor passou, a dor se fez nova força em mim. Força destruidora, reveladora, me coloriu de tristeza e esperança. Força devastadora, me ensina todos os dias o que você tanto alertou no seu silêncio, na sua espera, no seu vício.
Eu quis tanto te salvar, nos salvar. Fazer felicidade dentro de ti, dentro de mim. Cresci feliz tristeza... você se destruindo eu brincando de me libertar de você, da minha mãe, nossa prisão. Violentados, excluídos. Você se tornou alguém substituível e eu te procurei nos colos amigos, nos ombros alheios, nos beijos enamorados. Não encontrei meu sossego, nem minha paz, pai. Experimentei felicidade, o gosto doce ainda está aqui na minha boca sedenta. Será que você chegou a ser feliz? Pai, hoje eu preciso de perdão. Me perdoa? Perdoa meus erros, minhas fraquezas...me perdoa por falhar nos meus sonhos. Eu não desisti, pai. 
Chorei tua morte desesperada por uns seis meses. Passou. Aceitei quem sou. Aceitei quem você foi. Toda dor se cura quando queremos. O tempo é arbitrário, me disse um amigo. Tempo rei, senhor de tudo, menos de mim. Meu tempo é outro, pai. O tempo da dor e da alegria, da fraqueza e da fortaleza. Sou tudo e nada, pai. 
Eu sei que Deus cuida de você. Cuida de mim hoje, pai. Por favor. Pedi tanto do senhor e você me deu tudo que podia, que conseguia. Sua fraqueza me fortaleceu na dúvida. Na falta de fé pensei em você, pensei na nossa relação, no único sonho que ainda não matei em mim. Tanta coisa aconteceu, pai....tanto passei sem você, e pela sua morte paguei com minhas conquistas. Perdi tudo, todas lágrimas derramei. Pai, tudo será meu de volta. Tu és o exemplo ruim e o melhor. Eu forço tudo, eu pressiono, eu vou até o final, eu não desisto...eu não quis ser como você. Mas hoje eu quero. Eu quero ser um pedacinho do que você foi. Do seu silêncio de dor, da sua paciência, da sua honestidade, da sua redenção. Pai, hoje eu te peço: me ensina tudo. Tudo. Toda sabedoria que me falta. Toda alegria que eu procuro ansiosa. Todo sossego que eu rejeito.
Deixa eu sonhar com você hoje. Amanhã faz um ano. Eu prometi não chorar, pai....mas todo meu rio é por você. Toda meu destino foi traçado graças a você, graças a sua confiança em mim. Eu sei que você desistiu no final. Tudo bem.... tudo bem...aprendi a perdoar, pai. Me perdoa também.
Eu vou vencer nossa dor, nossa desilusão...todo nosso fracasso. Eu me recupero de tudo, o senhor sabe. Sabe tudo, nem preciso lhe falar, você assistiu tudo de dentro de mim. Mas hoje queria seu colo, seu ombro, seu abraço que nunca veio. E eu desejei orgulhosa e vaidosa...mas não pedi. Tão mesquinho, egoísta tudo isso de querer. Quero aprender com você a abdicar, a desistir do que não pode ser nosso, do que resiste a nossa força e à própria força.
Quando eu comecei a me reerguer me puxaram pro abismo de volta, pai. Mas tudo bem. Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Eu tomo conta de mim. Sempre foi assim. Quando precisei, me virei, fui dona de mim. Quando quis conquistei, não esperei. Quando doeu, me curei. Eu estou diferente, pai. Eu mudei. Tanta coisa aconteceu. Eu precisei duvidar de mim pra ver que tinha razão. Eu precisei me matar, pro meu sangue voltar a pulsar dentro de mim. Eu vivi na morte. Eu venci nosso fracasso. Mas não me perdoei por ele.
Pai, dorme em paz. Já faz canto nossos sonhos. Deus me sopra no ouvido todas lembranças avassaladoras. O vento sopra em mim tudo de bom que tivemos...e só assim consigo seguir. 
Pai, segue dentro de mim. Não me abandona jamais. Estamos fadados a esse amor doído, deixa ele ser sol em nós.