domingo, 28 de agosto de 2011

esse domingo


"Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir"

(trecho da música eu te amo de Chico Buarque)


Hoje é domingo. Acordo sozinha. Penso em nós, em tudo que éramos, tínhamos e queríamos ter. Vou começar a chorar agora, ridícula em meu quarto, me perguntando se você está sonhando sonhos ruins como os que eu sonhei hoje, sonhos sem sua voz. Ah não se enganem com isso que eu escrevo, é puro desespero patético, é quase uma oração na qual eu não oro por você, mas sim pra você.

Estou ouvindo todas as sad songs que me parecem fazer sentido agora, só pra chorar mais, só pra me sentir pior. Talvez você tenha razão, talvez “eu seja incapaz de me sentir feliz”. Nunca uma frase me fez me sentir tão má pessoa, e o pior não é que me senti mal porque percebi que isso talvez fosse mesmo verdade, mas sim porque eu estava te afetando com minha tristeza. Como eu consegui ser tão miserável, como consigo, aliás? Meu amor próprio, acho, nunca existiu, parece que eu gosto de me humilhar, ou no mínimo de que me humilhem. Por você e pra você eu passaria pelo pior dos dois.

Pronto, agora começou bem aquela música, aquela que eu só ouço quando eu falhei. Falhei com você. Nunca vou conseguir me perdoar por isso. Desde que eu te conheci, foi a única promessa e a minha única virtude verdadeira colocar você em primeiro lugar em absolutamente tudo na minha vida, nunca iria deixar você se frustrar nesse namoro, você era perfeito demais pra isso, e eu não podia desperdiçar meu milagre particular. Deus tinha me ouvido, você não entende? Aquele primeiro beijo, primeiro toque, minha calcinha molhada só de poder chegar perto de você. Eu quis você, te desejei mais do que uma mulher poderia, quando eu ia pra cama com você eu era puro desejo, eu queria estar dentro de você, eu queria isso mais do que você dentro de mim. Porque você nasceu dentro de mim, você sempre esteve na minha alma, adormecido, esperando sua hora, seu momento pra me curar, pra curar tudo de ruim que eu tinha. Mas eu abusei da minha sorte, do seu poder de me satisfazer. Eu sempre preciso de mais, não é meu bem? Como um anjo poderia fazer o trabalho de Deus. Eu desafiei você, te provoquei até suas veias quererem e precisarem do meu sangue, meu sangue sujo e envenenado de maldade e mesquinharias. Você nunca ia precisar de nada disso, e pelo jeito você percebeu isso agora.

Percebeu que eu só tenho isso pra te oferecer: mais e mais feridas pra você curar, pra me restabelecer num lugar que eu nunca estive. Tudo que eu tive foi um deslumbre desse lugar, o lugar que eu estaria completamente curada e com você, nossa própria Macondo, nossos cem anos de amor: viveríamos plantando sonhos ruins que já passaram e colhendo frutas doces com gosto de você, da sua boca. E eu comeria desesperada, ansiosa por mais. Meu deleite seria viver por você e pra você. Mas você quer que eu viva por mim e para mim. Está cansado da minha devoção insana e desmedida, deturpada e perturbada.

Pelo amor de Deus, ou que seja pelo resto de amor que você talvez ainda tenha guardado por mim, me deixa ser, me deixar estar ao seu lado, te ter como meu anjo por mais uma migalha de tempo que seja. Me prepara pro final dos tempos, pro apocalipse do nosso amor. Me ensina a devastar meu próprio coração com as minhas próprias mãos, a me corroer de solidão e felicidade. Eu não sei como vai ser, estou com medo, muito medo. Medos ridículos, por exemplo, o de ter que te ver dando seu amor à outra mulher, de ver você ser amado mediocremente por outra mulher. Eu posso te dar tudo no mundo, todo amor que houver nessa vida, tudo que eu tenho e que eu não tenho. Aliás, eu posso te dar tudo que você me pedir. Eu me juntaria com meus demônios pra te satisfazer, me curaria sozinha como você tanto quer, salvaria minha alma sozinha por você, só pela ilusão de pensar que você tem saudades de mim, que eu ainda sou a mulher mais importante na sua vida.

Acordar sem você aqui, hoje, especialmente hoje, não está sendo fácil. Eu consigo, me dá mais uma chance, eu vou recriar a felicidade em nós, não só em mim. Vou inventar uma nova palavra para amor e vai ser dez vezes melhor do que aquilo que a gente já sentiu um pelo outro. Eu vou plantar rosas pra te dar junto de tudo que eu enterrei e esqueci que eu era capaz de sentir. Me deixa ser a voz de seus sonhos saudosos de amor, deixa eu ser aquele beijo na orelha que te acorda sussurrando “eu te amo”, deixe agora que Eu cure a gente.

Hoje é domingo, e eu acordei me sentindo tão longe de você, como se eu soubesse que você estivesse adiando o fim por pura dó de mim. A primeira vez que você sente dó de mim, é nesse domingo, domingo de dor desesperada, de necessidade absurda de poder ter um último domingo ao seu lado. Ontem me disseram que longe é um lugar que não existe, não faça o longe existir entre a gente, entre o que nós somos e tínhamos sonhado alcançar um dia.

Eu não quero passar esse domingo chorando sozinha aqui. Por favor, me liga e me diz que me ama, sem magoa e sem dor, como todos os dias você fazia e pela primeira vez eu me sentia amada. Diz que também tem medo de ficar sem mim, que nossos problemas são todos ilusões sem sentido. Me diz, sobretudo, que também não quer imaginar sua vida sem mim, sem poder acordar no domingo e não me ter no leito ao seu lado.

Amor, hoje, nesse domingo, eu te amo mais que tudo na vida. E eu te amo assim, desde a primeira vez que você beijou minha mão e me fez acreditar mais uma vez que eu podia amar. Me diz agora como eu vou partir? Como eu vou sair?