quinta-feira, 14 de julho de 2011

Canção do vento e da minha dor...



"O vento varria os meses
e varria os teus sorrisos...

o vento varria tudo!


E a minha vida ficava

cada vez mais cheia

de tudo." (trecho do poema
Canção do vento e da minha vida de Manuel Bandeira)

Um vento está soprando sobre nós. Descolando nossas raízes, deslocando nossas memórias, trazendo uma dor em relação à nossa saudosa tranqüilidade insana e inquieta: nosso começo. Quero ser como a lua hoje, quero que o sol se esconda por trás de mim, ilumine minha alma opaca enquanto você me faz mulher. Você não vê? Preciso de você pra ser mulher...sua mulher, nosso leito sedento sem resposta. Quero de volta a brisa de verão que nos uniu um dia. Esse vento está trazendo de volta tudo que há de pior em mim, me fazendo suja verdade, egoísta de tudo que quero ser e ter, de tudo que você tem e não pode me dar.

Vamos, meu bem, fugir para Macondo. Lá vamos viver de tudo que não sabemos e tudo que saberemos será nossos corpos enlaçados em sonhos nunca satisfeitos sedentos por mais. Lá plantaremos mentiras iludidas e colheremos verdade e deleite. Você me coroará rainha e pelo menos uma vez na vida serei o melhor de mim e o melhor de todos, serei tudo que quero ser e não consigo concretizar, serei você e serei eu, seremos um em mim.

Por favor, me deixa lavar a alma aqui. Toda vez que você grita, toda minha sujeira se estremece lá no fundo lá onde o que é selvagem vive lá onde gritam de volta todo tipo de memória nojenta e escrota que tenho em mim. Você sabe bem do que estou falando. Esse vento está remexendo tudo em mim, me cansando me atormentando pra te atormentar pra que eu tenha paz. Já disse, vamos plantar mentiras e colher verdade. Quero ser tocada por você me sentir a personificação do que chamam sensualidade, quero que você me foda do jeito que grita comigo: como uma animal, como um santo que peca pela primeira vez. Quero arrancar toda sua pureza, inocência mascarada de malícia. Há muito que não me sinto assim. Suja e precisando de perdão. Quero seu remorso e seu prazer em minhas mãos. Quero controlar tudo de bom e de pior que sentires, aliás, quero ser tudo que você sentir.

Cada arrepio que esse vento me provoca me lembra da nossa primeira vez, da primeira vez que você entrou em mim e eu me livrei de todos meus fantasmas agourentos, de todos meus medos. Naquele dia você me lavou, me fez o melhor de nós dois...mas eu nunca mais consegui manter aquela sensação. Eu preciso daquilo novamente, você não vê que é disso que tudo se trata: de sentir você em mim de novo. De ser sua felicidade e seu anseio ser todos seus desejos aquilo que te anseia te atormentar em seus sonhos mais sujos e secretos ser sua punheta escondida suas lembranças reprimidas e tudo mais que você guardar em você para sempre.

Fizeram isso comigo meu bem, e quando esse vento nos abala, nos separa e nos infecta, eu me lembro afetada que enquanto você grita eu mereço tudo, toda dor e humilhação que já sofri: Tudo que Deus não deu a você e que está me fazendo pagar agora. E o pior é lembrar tudo que passamos até agora, dos sorrisos se esvaindo do brilho no olhar se apagando aos poucos do cansaço tomando meu desejo e se fazendo raiva em você das palavras de amor agora ódio em nossas cabeças nosso corpo tentando reatar tudo que fomos e tínhamos em um sexo sem sentido e procrastinador. Nossa dor me consumindo, me fazendo a vitima de toda hipérbole que vive em mim.

Eu sou o próprio exagero meu bem! E eu quero ser cada sensação sua. Deixa eu te contar um segredo:

Esse vento que sopra...ele não se sopra...somos nós que estamos soprando.