"Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá." (trecho do poema Não se mate de Carlos Drummond de Andrade)
Este é o meu drama, e pelo jeito não posso fazê-lo nosso. Devo te deixar partir porque é o que queres. Te foges. Sim, te foges de novo. És agora como este vento perturbador que me congela a alma enquanto assovia sussurros insensatos de zombaria contra mim. Mas isto é meu drama, querido. Não te preocupes com isto enquanto corres covardemente colérico. E por favor, agora te peço, ou melhor, imploro que corra sem olhar pra trás ou te transformarás em pedra fria e machucada como eu. Ah, respeite meu drama sim? Já que não o encara, meu bem, não se dê ao luxo de fingir importar-se sobre ele. Eu sou meu drama, não vês? Eu bem queria viver teu arco-íris desmedido de cores coloridamente falseadas de sépia – afinal, preto-e-branco ainda teria seu charme de certa forma – mas nem isso tu me dignaste.
Eu sou a verdade que não tens; que não és e por isto me rejeitas com desculpas de dois dias atrás. Eu sinto você e sei você, e te sinto e te sei mais do que tu mesmo. Eu sei o que fazes em becos escuros de reclusa dor e você acha que me trocando por suas fugas impreterivelmente ignorantes de resoluções vais preencher o vazio que estás a sentir. Eu sei também que você sabe se enganar mal, mas se convence bem. Porém, a dor que me causas tu é repleta de dúvida insegura e mentiras deslealmente verdadeiras mal contadas a mim. Se assuma, por favor! Ou melhor, ME ASSUMA! Não sou uma sombra tua: esporádica, só existo em tua vida nos dias mais ensolarados.
O destino irônico sarcasticamente sádico ri de mim, parece que finalmente me tornei joguete em tuas mãos, com o qual ludicamente brincas de manipular dócilmente. Como se sente? O meu drama já está ficando melodramático demais, não acha? Você nem tanto poder assim, meu amorzinho, a verdade é que eu sou muito aquilo que sinto, e não nego meus sentimentos. É este amor maldito por ti que me deixas assim hiperbólica e exagerada. E eu sei muito bem como vais argumentar cada motivo e depois que eu gentilmente lhe calar a boca, me dirás “silêncio, mulher!” daquele teu jeito bronco, pois algo de muito refinado lhe falta e a isto eu chamo assumir-se. Malgrado, falsa epifania lhe atinja, bem eu queria poder fazer você enxergar todos teus absurdos, pois dois minutos depois do prazer íntegro que lhe dou, já voltas a renegar-me.